terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vidro


Estou presa em algum lugar
Busco forças pra me libertar, mas não consigo
Esse lugar é sufocante e escuro
E a vontade de me libertar é grande, mas não encontro a saída
E quanto mais eu me movimento para sair
Mais presa eu fico
Estou presa em algum lugar
Desse lugar eu consigo ver a vida acontecendo
Vejo a claridade do dia, a escuridão da noite e o brilho da lua e das estrelas
Vejo os pássaros que voam e as pessoas que habitam a vida
Vejo até a mim mesma
Mas sei que, lá fora, não estou completa
Não sou eu de verdade
Eu estou nesse lugar, escuro, sombrio
Presa de mim mesma, sem poder ser eu
Afinal, não tenho ideia de como seria se me juntasse ao eu que está lá fora
Esse lugar me aflige, me deixa angustiada
Me faz querer quebrar as barreiras para que eu possa viver de fato
Mas eu estou presa lá
Já pensei que a solução pudesse ser a arte
Mas não acredito que haja talento ou capacidade para me entregar a ela
E nesse lugar, a única companhia são todas as possibilidades de mim mesma
As frustrações de não ter sido nada além daquele eu preso ali
Ou nada daquele eu sem graça e sem vida que habita lá fora
De que adianta estar livre e poder viver, se não se vive?
Eu, presa, se liberta viveria
Faria da vida uma grande tela, pintada com todas as emoções possíveis
Uma partitura com notas jamais ouvidas
Um livro
Um palco
Um palco
Estou presa em um lugar
Escuro, sombrio, asfixiante
Vazio de pessoas, mas repleto de sentimentos que atormentam
Parece o fundo de um vulcão
E esse lugar tem um vidro
E dele, eu vejo o mundo real
E eu me vejo lá
Apenas existindo

Foto e texto: Lorena Medrado
Tratamento foto: Flávio Mex